Uma mescla de gêneros, formatos, livros e manifestações culturais. Esses são alguns ingredientes que fazem da Feira do Livro um lugar vital para reforçar a cultura de Santa Maria. Quem também ajuda nessa grande receita são os autores. Além de grandes nomes já consagrados, o evento também serve como vitrine para mostrar à cidade talentos menos conhecidos e menos experientes no cenário literário.
E nesse ponto não estamos falando somente de idade. Separadas por 25 anos e influenciadas por diferentes gerações, duas mulheres chegaram a Feira do Livro de 2023 com status de "nova geração", mostrando que estão em um inicio de jornada e têm muito a contribuir com as próximas edições.
Gisela Biachhi, de advogada para autora de contos góticos

Gisela é natural de Santa Maria, mas mora atualmente em Brasília (DF). Desde a infância, a biblioteca da casa dos pais foi um estímulo à leitura. Mesmo assim, ela conta que aproveitou essa época como uma boa criança: brincando muito. Mas o contato com os livros foi ficando cada vez mais frequente com o passar dos anos e a vontade de escrever foi surgindo espontaneamente. Na adolescência, começou a escrever algumas linhas, de alguns pensamentos, mas sem um objetivo claro, somente por hobby; tanto é que foi cursar Direito e se dedicou por anos à carreira, ingressando até na docência.
Na vida adulta, conheceu seu esposo, militar, e passou a se dedicar mais às constantes mudanças que a profissão do companheiro demandava; com isso, deixou sua profissão de lado. A cada mudança, precisava de algo para se reconectar consigo mesma, e foi assim que a escrita tomou um espaço cada vez maior em sua vida.
Seu primeiro livro, intitulado Contos de Fome e de Sangue, do gênero gótico, foi lançado em 2020. Ela conta que seu objetivo era lançar na Feira do Livro de Santa Maria do mesmo ano, porém a pandemia chegou e os eventos foram cancelados. Então, lançou sua obra mesmo assim, porém em Brasília. Em 2022, dois anos depois, com a retomada dos eventos presenciais, ela decidiu retornar à sua terra natal e lançar a obra.
– Meu desejo sempre foi lançar meu primeiro livro na Feira de Santa Maria. Porém, com a pandemia, esse sonho foi adiado; lancei ele somente na Feira de 2022. Fiquei muito feliz com o resultado dele, que foi até premiado pela Academia Brigadiana de Letras no ano passado – lembra.
Na infância, frequentava cada edição de Feira, sempre curiosa pelos lançamentos. A cultura daqui lhe inspirou tanto no momento criativo do seu primeiro livro, que os cenários narrados pelos Contos de Fome e de Sangue se passam em diferentes lugares aqui do coração do Rio Grande.
Seu primeiro livro lhe deu tanto gás que ela lançou a segunda obra, A Horda, também do gênero gótico, na Feira do Livro de 2023, no último domingo (30). A publicação é separada em contos.
– Essa segunda obra é mais diversa, eu tento causar diferentes sentimentos no leitor, desde a reflexão até a emoção. São quatro capítulos, que podem ser lidos fora da ordem, de forma independente. Quero que o leitor “saia da rotina” ao se dedicar a essa leitura – explica.
Unindo preço acessível e experiência, ela relata que ao comprar um livro, o leitor quer muito mais que letras, quer experiências. Sobre o sentimento em lançar sua segunda obra na Feira do Livro de sua cidade natal, ela é categórica: não quer mais parar.
– Dá sempre um frio na barriga, né? Mas eu sou corajosa. No primeiro lançamento eu estava mais insegura, agora me sinto mais leve. Sempre quero lançar aqui, é uma forma de contribuir com tudo que a cidade já me ensinou. É uma forma de ensinamento por tudo que já vivi em Santa Maria – fala.
Usando o cenário santa-mariense como estímulo para o seu trabalho, ela cita Armandinho Ribas como uma de suas inspirações literárias na cidade. Mesmo com anos de vida, mas poucos de escrita, ela afirma que não há hora para começar em busca dos seus sonhos e deixa um recado importante: todo mundo que escreve deveria mostrar ao mundo aquilo que passa ao papel.
– Quando escrevemos, transmitimos sentimentos, é como se construíssemos “uma ilha” em torno de nossos pensamentos. E todos nós merecemos essa ilha ao fim de um dia corrido.
Hannah Rossato: jovem escritora em busca do seu potencial

Hannah tem 25 anos, é natural de Santa Maria e formada em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria. Também carrega o gosto pela literatura desde o berço.
Acostumada a ver seus pais recorrerem aos livros para sanar qualquer dúvida, ela também entendeu que mergulhar nas páginas era uma realidade natural.
Antes mesmo dos 10 anos, Hannah já escrevia suas histórias infantis e frequentava a Casa do Poeta de Santa Maria. Ela relata que pertencer a esse espaço de fala, de ouvir e ser ouvida por inspirações desde muito pequena, lhe proporcionou motivação para se manter na escrita e aprimorar a sua prática.
Ainda na escola, a cada visita nas edições de Feira do Livro e a cada redação entregue em aula, seus professores perceberam nela um talento a ser lapidado; tanto que alguns lhe davam espaço em aula para que ela compartilhasse suas escritas com os colegas.
Conforme foi crescendo, algumas visões de mundo mudaram e os questionamentos da adolescência começaram. O que seria útil escrever agora? Assim ela foi direcionada para o curso de Artes Visuais.
– No curso, entrei em um processo de autoconhecimento profundo e na busca em produzir algo. Assim, me aproximei das palavras novamente. E assim, a escrita passou a servir de gatilho para todo o meu processo criativo – conta.
Hannah passou a se interessar por contos de fadas e lançou seu primeiro livro Oráculos de Wassilissa na Feira de 2022. Ela conta que as inspirações para escrever essa obra surgiram ao produzir seu trabalho de conclusão de curso, mesclando escrita e desenhos, ainda na pandemia, quando tinha 22 anos.
Jovem e sempre imersa no mundo dos livros, Hannah busca inspirações em autores já consagrados no cenário literário santa-mariense, além de artistas mais jovens que, como ela, estão iniciando as suas jornadas dentro do mundo da escrita e das artes.
Questionada sobre fazer parte de uma nova geração de escritores da cidade, ela afirma que nunca pensou de uma maneira tão grande assim, mas afirma: ainda tem muito para oferecer.
– Ainda estou me descobrindo, enxergando o meu potencial, sou jovem. Mas ainda vou contribuir bastante para o cenário local. Acredito que tenho muito para dizer e uso a escrita como meio para isso – conclui.